terça-feira, 7 de junho de 2011

Amor de filho.

- Hora de acordar!
Era o que mamãe me dizia todas as manhãs.
Uma frase simples, mas que para mim era muito importante ouvir todos os dias.
Sinto sua falta.
Adorava quando ela ficava por horas, me olhando digitar minhas histórias infames.
Ela adorava meus textos, e sempre dizia que eu seria um grande escritor. Que sonho! Era um grande sonho, e ela estaria ali, sempre ao meu lado.
Pelos menos era o que eu imaginava, e esperava.
Na verdade, foi. Até ela conhecer o esposo dela. No começo eu até gostava dele. Mas, era o começo, e eu sabia que ele fazia aquelas coisas apenas para me agradar. E tinha uma certa noção de que algumas coisas mudariam depois do casamento.
Fazíamos muitos passeios em família. Íamos ao zoológico, ao shopping, ao teatro, e visitávamos museus também.
Então chegou o grande dia. O casamento.
Eu realmente a amava. Ela era minha mãe, e meu dever era protegê-la.
Ele aguardava no altar. Eu estava ansioso, nervoso, agitado. A valsa matrimonial tocava. E ali estava ela. Linda, de branco.
E logo em breve ensanguentada por um amor que não seria bom para ela. É obvio que eu tenho certeza que aquele amor não seria bom para ela.
Apenas eu, seu filho.
E agora, ela está morta.
Se eu a matei? Claro que não, eu a amava. Mas, sim! Foi eu quem a mandou matar.
Ciumes, talvez. Mas eu não aceitaria outro homem na vida dela, senão eu.
Memórias de um ex-drogado.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Pacóvio

- Cretino!
Foi o fim de uma conversa áspera da moça pelo seu telefone celular. Depois daquele "cretino!", dito com aquela força, era de se esperar que a moça jogasse o celular longe, como se estivesse jogando fora o próprio cretino.
Mas não. Ela apenas desligou o celular e colocou ao lado da sua xícara de café (ou seria chá?), na mesa.
O homem da mesa ao lado certificou-se de que ela estava calma, e não despejaria todo o seu ódio, que pela conversa no celular parecia incluir toda a humanidade, sobre sua cabeça, e comentou:
- Palavra curiosa, né?
- O quê?
- Cretino.
- Por quê?
- Eu sempre pensei que tivesse alguma coisa a ver com Creta.
- Concreta?
- Não. Creta. A ilha de Creta. Cretino seria alguém de Creta. Que por alguma razão teria a fama de produzir idiotas.
- E não é?
- Não. Fui ver no dicionário. Cretino é quem sofre de cretinismo, uma condição decorrente de problemas de tireoide.
- Não é o caso do meu cretino.
- Eu desconfiei que não era. No dicionário diz que "cretino" também é sinônimo de lorpa, pacóvio...
O telefone tocou. Vivaldi. Ela atendeu rispidamente.
- Quié?
Ouviu por alguns minutos, de cara feia. E ela era linda. Depois disse:
- Sabe o que você é? Um lorpa. Qual é o outro?
- Pacóvio - disse o homem.
- Um pacóvio. Nunca vi um pacóvio igual. O quê? Não, não estou com ninguém. Estou tomando um cappuccino sozinha, pensando em como pude perder meu tempo com um pacóvio como você. Por favor, não me ligue mais.
Ela desligou o telefone. Sorrindo. Ele perguntou:
- Marido?
- Deus me livre.
- Namorado?
- Não é mais.
- Posso lhe pagar outro cappuccino?


Mais tarde, já na cama, ela distraída, ele perguntou se ela estava pensando no namorado.
- Não,  não. Acabou!
- O que foi que ele fez, afinal?
- Nada. Pacovice geral. Na verdade, não nos entendemos desde o inicio. Ele é bonito. Mas sabe aquele tipo que tem o bíceps na cabeça? É ele. Não podia dar certo.
- Ainda mais com o Vivaldi.
- Como, Vivaldi?
- É o que toca no seu celular. Vivaldi. Uma das quatro estações. Tenho uma tese de que se pode saber tudo sobre uma pessoa pelo que ela escolhe para tocar no seu celular. Uma vez rompi o namoro com uma mulher quando descobri que o celular dela tocava Wagner. Achei que seria perigoso. Já uma mulher que escolhe Vivaldi...
- Não é para qualquer cretino.
- Definitivamente não.
Origem: Jornal Zero Hora, 22 de maio de 2011.

Richard Wagner:
Richard Wagner morreu em 1883, foi maestro, compositor, diretor de teatro e ensaista alemão. Ele era conhecido principalmente por suas óperas.
Achei esse texto bem divertido, e por isso quis compartilhar.
E aproveitei para fazer uma breve "divulgação" de Wagner. Nada melhor do que a beleza e pureza de uma boa melodia. Haha. Eu considero.

"But love is blind [...]

[...] and lovers cannot see / the pretty follies than themselves commit." ("mas o amor é cego e os amantes não conseguem ver as graciosas loucuras que eles mesmos cometem").
A expressão "o amor é cego", tão conhecida no mundo todo, foi criada em 1956 pelo poeta inglês William Shakespeare, quando escreveu em o Mercador de Veneza a frase citada a cima.
 Origem: Jornal Zero Hora, 19 de maio de 2011.

Para quem não sabia a origem desta expressão... Shakespeare para sempre em nossas vidas, amém. ♥

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Citação

"Porque açoitas essa pobre rameira? Vira contra ti próprio essa chibata. Estás ardendo de desejos de com ela realizares o ato por que a castigas."
Rei Lear - Shakespeare
Ato IV - Cena VI

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Ébrio

Como tudo que é bom vale a pena ser mostrado, aí vai:
http://e-brio.blogspot.com/2011/01/quando-so-me-resta-o-azul.html
Eu realmente admiro muito o autor deste Blog, e é um dos meus favoritos. Por algum motivo esse texto mexeu um pouco comigo, e eu gostaria de compartilhar. A combinação da música com o texto ficou muito boa, na minha humilde opinião. 

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Detalhe

Deitados. Ali estavam os corpos imóveis. Sobre a cama do local do crime nem ao menos um mosquito se movia. Um casal um tanto jovem. Aqueles que a pouco tempo atrás faziam juras de amor um ao outro, não se podia mais nem ouvir a respiração. A lua clareava boa parte do quarto através da cortina de seda esquecida aberta por um dos criminosos. Coisas espalhadas pelo quarto e uma garrafa de vinho quebrada no tapete. A televisão permanecia ligada, em um filme qualquer, para que ninguém suspeitasse de nada que havia acontecido naquele quarto. Havia apenas dois corpos, ali deitados e imóveis. Permaneciam intactos. O local ali, silencioso. Naquele quarto de motel, criminosos do amor e da paixão.